Uma jornada de superação face à insegurança alimentar

Nkhondo é uma pequena comunidade montanhosa, situada em uma área recôndita, de difícil acesso,  na província do Namibe, Sul de Angola. Os habitantes daquela localidade enfrentam muitos desafios: desde a falta de electricidade e cobertura de rede de telefonia, escolas que abriguem todas as crianças, até serviços públicos básicos, como postos de saúde, e principalmente a seca que acarreta outros constrangimentos, como a insegurança alimentar.

A vida nas montanhas não é fácil. Para comunicarem-se com outras comunidades através do telemóvel, os moradores precisam deslocar-se até a estrada que conecta à sede do município, onde há sinal de telefonia. A situação mais preocupante, no entanto, é a da seca, causada pelo fenómeno climático El Niño. As colheitas têm sido prejudicadas, e consequentemente, a  economia das famílias, que buscam nos mercados complementarem os produtos para a dieta. A alta desproporção do preço dos alimentos, condiciona as famílias a terem cada vez menos diversidade à mesa. Quando há o que comer, muitas vezes, a quantidade não é a suficiente. A vida em Nkhondo exige muita resistência e resiliência.

“Eu sempre fui camponesa, não consegui estudar muito, apenas até à 5ª classe. Quando recordo a época do tempo seco, as coisas aqui no Nkhondo só pioravam. Éramos obrigados a procurar meios para acudir a fome, fazendo biscates para lá, depois da estrada principal. Porque aqui nas montanhas, a única forma de sobrevivência era o corte de árvores para a confecção de carvão. Caso contrário, não tínhamos como nos alimentar, pois não conseguíamos plantar nada. A seca impedia-nos de cultivar”, lembrou Maria, nativa da comunidade do Nkhondo.

Em meio a esse cenário cheio de obstáculos, o Programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN), através do projecto implementado pela World Vision Angola – Okulonguesa, tem sido um catalisador de mudanças significativas para 19.500 beneficiários directos e mais outros 590 beneficiários intermédios , entre crianças, jovens e adultos. 

As actividades do plano de trabalho trouxeram desenvolvimento transformacional, utilizando a rica diversidade da cultura predominante Nyaneka Humbi (mumuílas), que há séculos se dedica à pastorícia e à agricultura de subsistência em uma região que apresenta um relevo particular, para potencializar suas práticas e agregar valor à vida dos habitantes. Através da inclusão de intervenções no sector de água, saneamento e higiene (WASH), a  gestão da malnutrição a nível comunitário, e, de forma geral, a melhoria da diversidade e a qualidade da alimentação da população rural vulnerável, particularmente as crianças.

Passados 2 anos do início das actividades, Maria tornou-se uma das coordenadoras da Escola de Campo implementada pelo projecto e recebeu a formação de merendeira para auxiliar na confecção da alimentação escolar dada aos alunos da comunidade. Ela ressalta que com a presença do Okulonguesa na sua comunidade, a intensidade do tempo seco não tem tido tantos efeitos como antigamente, pois graças aos ensinamentos recebidos através dos técnicos agrícolas do projecto, hoje, consegue plantar culturas resistentes à estiagem e assegurar uma boa colheita para a sua alimentação e da sua família, composta por onze membros. 

“Eu estou muito feliz! Agora, para além de cultivar as minhas plantações para alimentar a minha família, tenho também o meu pequeno emprego como merendeira na cozinha da escola. Já ninguém precisa mais vender carvão para poder ter comida; os tempos mudaram. Agora queremos focar-nos no desenvolvimento dos nossos campos, produzir colheitas maiores e garantir um futuro melhor para todos. Estamos imensamente gratos pelo projecto, que tem trazido transformação nas nossas vidas”, afirmou Maria com entusiasmo.

O projecto Okulonguesa é subvencionado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. no âmbito do Programa FRESAN, e é implementado pela World Vision Angola em parceria com a ADESPOV.​

O FRESAN é uma iniciativa do Governo de Angola financiada pela União Europeia e co-gerida pelo Camões, I. P. Pretende contribuir para a redução da fome, da pobreza e da vulnerabilidade à insegurança alimentar e nutricional no Cunene, na Huíla e no Namibe, sobretudo através do reforço da resiliência e da produção agrícola familiar sustentável, da melhoria da situação nutricional das famílias e do apoio ao desenvolvimento de capacidades nas instituições.​